segunda-feira, novembro 01, 2004

O Homem Branco

O Homem em Branco é uma pessoa invulgar. Se perguntares ao homem em branco se prefere azul ou amarelo, o Homem em Branco não responderá. O Homem em Branco é um camaleão, sorri quando é suposto, diz o que é suposto, mente para manter o suposto. O Homem em Branco escondeu-se à muito tempo e já não sabe quem era. E é por isso que agora, quando já não se consegue esconder, gagueja quando lhe perguntam se prefere chá ou café. Mas de todas as coisas que assutam o Homem em Branco, e não são poucas, opinar sobre temas inopináveis é que mais o petrifica. Não há opinião base, não há opinião padrão. Mas ao contrário do que seria de esperar, o Homem em Branco é amado. E é amado por coisas que não são padrão. É amado por coisas que não diz. Mas a grande questão é: o que diria o Homem em Branco se lhe perguntassemos se se sente amado?

O Acidente

E de repente, num segundo, deixei de poder estar com ela. Pedaços do seu crânio a voar em frente aos meus olhos. Caindo no prato do homem gordo. Caindo na cesta do pão. Caindo no cinzeiro. Como um balão. Não posso mais olhar nos seus olhos. Os gritos estéricos em forma de cinema mudo numa sala salpicada de vermelho. E eu sozinho. Deixa-me comer essa última bala. Por favor.

Sou um primata.
Sou um primata.
Sou um primata.