quarta-feira, abril 28, 2004

Paralelismo

Manhã quente e agitada na urbe. Nuno caminha de mochila ás costas, saltando entre ilhas de passeios num oceano de estradas perto do grande Hospital local. Ao mesmo tempo, um pouco mais adiante e perto da face Oeste do Hospital, Sandra, sua namorada, caminha em direcção oposta á de Nuno. A rota pré-definina em ambos os seus cérebros invoca uma colisão de existências não planeada na esquina do Hospital ás 14 horas, 33 minutos e 12 segundos.

Branching Point

14:28:21 - Nuno atravessa a ultima passadeira, olha para a esquerda e retrocede perante a proximidade de um automovel cinzento metalizado guiado por Helena Dias - quarentona, dona de um café na zona rica da cidade que desligava naquele preciso momento o telemovel numa tentativa de evitar as perseguidoras chamadas de seu marido. Abre o sinal verde e Nuno avança chegando á esquina do hospital ás 14:33:12 onde encontra Sandra. A alegria de um momento inesperado. A vida continua.

14:28:21 - Nuno atravessa a ultima passadeira, olha para a direita. Nesse preciso momento, a condutora de um automovel cinzento metalizado, Helena Dias desligava o seu telemovel numa tentativa de evitar as perseguidoras chamadas do marido. Quando ergue os olhos novamente para o campo de visão embate violentamente contra o corpo de Nuno. No momento do embate 3 costelas são quebradas sendo que uma perfura o pulmão esquerdo. O corpo de Nuno é projectado 16 metros para lá da passadeira e acaba de se mover ás 14:28:59. Ás 14:33:12, Susana chega á esquina do Hospital e denota o alvoroço que toma lugar cerca de 40 metros á frente. Tenta ver o que se passa mas a multidão já se aglutinara em torno do acidente. Não perde mais tempo e retoma a rota pré-definida pelo seu cérebro. A vida continua.

Será o tempo uma árvore? Ou apenas uma estrada linear?

sábado, abril 10, 2004

Que raio de nome é "Zea Mays"?

Ela era uma típica mulher de Leste, ou pelo menos era isso que eu tentava ver naquela personagem extravagante que se dirigia para mim em passos galopantes raspando os tacões na calçada portuguesa. O seu cabelo preto, mais que obviamente pintado sobre um loiro angelical, cobria toda a testa e parte dos óculos escuros. Tinha ombros largos e uma postura assustadora, nada feminina.
Se o principal objectivo deste encontro fosse a descrição, o casaco preto com ar de saco de plastico, a mini saia de cabedal e as meias rendilhadas teriam deitado tudo a perder.
"És Rasputin?"
O sotaque confirmou: Ucrânia, Republica Checa ou mesmo Rússia. Provavelmente não achou piada ao pseudonimo que escolhi, mas o seu ar frio e estranhamente masculo nada transpareceu.
"Sim... e tu és...?"
Tirou os óculos como quem tira um revolver de um bolso escondido. Tinha um olho azul e um castanho.
"Zea Mays"
Que raio de nome é Zea Mays?
"Quê? Não percebi..." - eu tinha percebido, mas quis confirmar.
"Zea Mays" - disse cerrando os dentes.
Para ser sincero o nome batia certo com o aspecto: eu estava a iniciar uma conversa com uma vilã de um livro de BD! E foi assim que conheci Zea Mays, a minha fornecedora. O plano corria como planeado.

domingo, abril 04, 2004

O inicio

No inicio, tudo era nada... tudo era vazio... branco... será esta a cor do vazio?

Quando alguem se sente em baixo, se sente vazio diz-se simplesmente, he´s got the blues... blue... azul... será então essa a cor do vazio???

Lentamente a mente foi trabalhando, e as letras foram-se juntando. De letras soltas passaram a sílabas, palavras, frases, parágrafos, capitulos... E assim do vazio, do nada, nasce a obra...

Leio a obra, os heróis tornam-se, meus heróis, e os vilões, meus vilões. Deixo-me levar pela acção, riu-me com as piadas, choro com os desgostos... Vivo a obra... A obra faz parte da minha vida... A minha vida vem da obra... e do vazio nasce a minha vida...

Nasço, cresço, vivo, morro... E onde existia, de mim apenas resta as memórias e o espaço... vazio...
E do vazio nasce o vazio...

sábado, abril 03, 2004

Carnívoro

Ser linchado é uma sensação espectacular. Primeiro ouves as vozes enfurecidas a aproximarem-se de ti como uma onda no Pacífico que busca a destruição de uma pequena aldeia insular. Como uma onda de choque.
Quando a primeira pessoa te derruba, fá-lo em câmara lenta... e como uma pena tocas na calçada, fria. Não consegues acreditar no que se está a passar e já milhares de membros te mordem como cães raivosos. Sentes a primeira dor e a sensação que tens é de revolta, queres agarrar em todos e faze-los sofrer... mas uma multidão é um unico ser, especialmente quando se move em uníssono. Quando te apercebes da tua monumental impotência prestas mais atenção aos teus sentidos: sentes os teus dentes a partir, saboreias o teu proprio sangue e ouves os latidos do descontrolado carnívoro que te assola.
E não consegues perceber porquê. Porque é que te odeiam, porque é que te querem tirar a vida. E nada disto é justo porque tu vales muito mais que cada um deles.
E então ficas com medo.
Como um feto abrigas-te em ti próprio e pedes misericórdia, esperas que alguém sinta pena de ti. Mas eles não param.
E lentamente tornas-te numa casa abandonada.
Não foi numa cama confortável. Não lhe disseste que a amavas. Não viste um glaciar.

Was it meaningful?

(...)

Vejo o ecrã branco, quero preenche-lo com palavras, emoções e sentimentos... esboço tentativas, nada sai direito... continua vazio... tal como a minha alma. A custo consigo juntar estas palavras com esperança, não de que alguém as entenda, mas sim que façam algum sentido na minha cabeça. Espremo as ideias e nada! Não adianta...

Hoje não tenho muita FÉ na Humanidade, mas... amanhã é outro dia e tudo vai estar bem!

quinta-feira, abril 01, 2004

Alucinação Etílica

Neste momento de alucinação tudo é correcto. Os dedos não acertam nas teclas mas... mas... é pá, eu nem devia estar a escrever... vou mas é dormir.

AAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHH...

"Yesterday I woke up sucking a lemon"