quarta-feira, março 17, 2004

Romantismo urbano!

Há quem prefira o campo em pretérito da cidade! Dizem que é mais calmo e sossegado, puro e simples. Gostam de passear junto aos pomares e riachos , passar por baixo das árvores e ouvir o canto de rolas e melros...

Eu sou um poeta citadino, um romântico urbano... não há nada como andar pela cidade lavada, numa manhã solarenga, depois de uma noite chuvosa, a ouvir a chuva nos telhados de zinco. Saltar as sargetas entupidas e passear sob os andaimes ouvindo os trolhas, essas aves canoras que enchem a cidade de sons com os seus assobios...

Hoje o dia 'tá perfeito...

Numa esplanada perfumada

Os olhares começaram a trocar-se metros antes. Ele aproxima-se e agarra a fria cadeira de ferro - "Posso?". O levantar de sobrancelhas é objectivo, mas é prontamente reforçado por uma palavra "Claro". Os movimentos apreensivos e atabalhoados faziam-se notar nos dois, equanto ele se acomoda. A tensão da mesa numero 12 contrasta fortemente com a restante esplanada, relaxada e sorridente.
É notorio o esforço que ambos fazem por evitar o contacto ocular e os frequentes reposicionamentos de cotovelos e mãos traduzem o nervosismo vergonhoso.
João cerra os olhos e junta as palmas das mãos sobre a mesa como que tomando a iniciativa de dialogo, abra a boca mas é interrompido pela rapariga. "Não tem que estar aqui... se isto estiver a ser incomodo, por favor, saia" - a resposta é imediata "Não, não! fui eu que insisti, por favor...".
Bárbara abana a cabeça enquanto fita vagamente o chão e morde os lábios.
"Isto é uma situação... ...estranha" - confessa João enquanto dobra um guardanapo. "É"...
"Eu já o vi... lembra-se?"
"A sério? Tu eras tão nova... hum, perdão, prefere que a trate por você?"
"Não, está bem assim, a diferença de idades justifica!"
Um sorriso breve e a conversa é reatada, apesar da reticência
"...É estranho... tu és tão parecida com a minha avó"
"A nossa"
"Quê?"
"A noss..."
"Ah sim, sim, sim... pois!" - João esfrega agora a cara com as mãos e retoma o diálogo em seguida.
"Realmente... uma pessoa pensa nestes momentos mas..."
Perante a pausa de reflexão Bárbara intervém
"Eu perçebo que isto pareça muito especial, mas nós não temos nada em comum... Só vim por sua insistência e devo dizer-lhe que isto é... extremamente desagradável"
"Eu percebo... Eu percebo..." Um longo suspiro transparece um espirito de desistência. "Isto é uma má ideia, não há nada que possa fazer que dê significado á tua vida"
"A minha vida sempre teve um significado... como pode ser tão egocêntrico?"

Climb Up The Walls

Sei que me consideras demente. Quando olhas para mim com desprezo como quem se afasta de um vulto no nevoeiro. Sei que me notas no canto da sala enquanto te vejo conversar, reparo nas escapadelas que os teus olhos fazem para o ângulo morto, que me procuram.
Querias agarrar-me e arrancar furiosamente a minha roupa, arranhar as minhas costas e morder a minha pele. Sei que queres o meu calor e a tua boca bebe das minhas palavras doentes. Queres histórias de morte e de terror, de sangue derramado e de gente cicatrizada, queres o fruto putrefacto que a minha língua oferece. Contorces-te á noite nos teus lençois imaculadamente pecaminosos porque me vives e me procuras.
E sei tudo isto, porque me desprezas...

quarta-feira, março 03, 2004

Morrerei a 19 de Julho de 2038

E se soubesses em que sítio irás morrer? Irias lá?
Se te indicassem o exacto local da tua morte. O espaço onde respirarás o teu último ar. A última paisagem que verás.
Será um beco sujo e húmido para onde um soldado do exercito invasor te arrastará para te executar? Será uma cama quente num prédio antigo de uma cidade italiana, onde agarrarás as mãos quentes e suaves dos teus netos? Será uma estrada alentejana, entre as planícies, onde o radiador do carro de um suicida te penetrará no tórax? Será sentado em casa, abraçado aos teus pais enquanto se debatem inutilmente contra o gás que vos paralisa o cérebro? Será numa estéril sala de espera sobre uma poça de sangue de um ferimento que não conseguiste suster? Será num lugar com cheiro a alfazema? Será no aniversário do teu primeiro beijo?

Morrerei a 19 de Julho de 2038.
Morrerei feliz?

febras na calçada...

À tempos ía a passear por essa rua fora quando de repente fui atingido por pensamento que, certamente, ja passou pla cabeça de todo o despegado homem: Durante o inverno onde param as ditas "febras"? Está cientificamente provado que durante a época outono/inverno o indice per capita de mulher bonita, vulgo "febra", diminui drasticamente, ou seja em termos practicos, não se vê practicamente nenhuma por aí, restando apenas algumas "deslocadas" provavelmente desorientadas com o subito arrefecimento do clima! Este facto científico-natural é de extrema importancia para os despegados em geral, que procuram por todo o lado, frenéticamente, a sua "febra-metade".

Analisemos a questão com o fim de tentar encontrar indícios de uma explicação lógica: Quando o tempo começa a arrefecer é ver a febra a desaparecer (até rima!). A sua população aparenta ter uma drástica diminuição do seu número. Quando o tempo aquece e começam a haver aqueles dias de sol tão agradáveis, mais concretamente no inicio da Primavera, é vê-las todas contentes, todas florescentes (neste caso refiro-me, mais concretamente, à "febra" beta), por todo o lado tipo cogumelos (pop!) a povoar tudo o que é esplanada, preparando o seu organismo para a dura jornada que as espera algumas semanas mais tade: ir à praia...

Surgem algumas hipóteses:

1) Estes espécimes migram para sul, para zonas mais "quentinhas" fugindo ao Inverno e ao mau tempo!

2) A "febra" sofre uma metamorfose, qual borboleta, transformando-se, em estações mais frias, naquilo a que na gíria macho-despegada é conhecido por "camufs". Talvez o "camuf" seja mais resistente às baixas temperaturas...

Refutações às hipóteses:

1) Se repararmos, quando arrefece o maior fluxo de transito verifica-se para zonas montanhosas para aproveitar a neve... No sul não temos muitos locais que ofereçam estas condições! Então à partida é refutada a ideia de "fugir p´ró quente"! Também não tou a ver marrocos cheio de "febra"! Então teríam q viajar pra sítios mais "in" como palma de maiorca, copacabana, bora bora... Acredito que algumas o façam, mas ser "febra" não é sinónimo de ter riqueza.

2) HAHAHAHAHAHA!!! Esta é aínda mais ridicula que o tema do post... até porque existem as tais "desorientadas" que vemos esporádicamente...

Após intensos, cansativos e elaborados segundos de pensamento cheguei à resposta deste enigma: a "febra" hiberna! Todos os indícios apontam para tal! Esta sub-especie da espécie humana, na época outono/inverno, comporta-se tal como o murcão (pequeno insecto utilizado como isco na pesca), recolhendo-se à segurança e conforto das pedras da calçada! É lógico! Assim também se explica que, quando "os dias aquecem", elas sentem a mudança de temperatura, despertam e pululam alegres e florescentes por essas ruas fora!!!

Portanto, para todos vocês despegado-desesperados, aqui está a solução: Aproveitem o atordoamento do estado hibernatório das "febras" e toca a levantar os paralelos da calçada! Talvez assim consigam "fisgar" alguma! Para os mais preguiçosos ou esperançosos resta esperar pla Primavera, que já está quase aí!