quinta-feira, fevereiro 05, 2004

Efémero

Apesar de ainda sentir o teu calor, já saboreio a tua partida. Já vibram nos meus tímpanos as palavras que docemente me amargurarão e os meus dedos tacteam a malha que usarás nesse dia. Deslizo a minha mão pelos lençois e agarro a tua barriga, aproximo o meu nariz do teu pescoço - ainda dormes. A suavidade da tua pele será um dia uma ferida e noutro dia uma cicatriz, eu sei que assim será pois na verdade sou efémero. Queria mergulhar mais afincadamente neste momento que em desespero tento eternizar, mas os meus olhos tremem para o que vem. A minha mão desliza agora pelos contornos da tua face, por cada poro, por cada pelo. Um beijo ternurento e caio de novo na minha almofada contemplando o tecto.
Tudo será como tem que ser. Obrigado por seres como és.