terça-feira, janeiro 13, 2004

Uma noite no casino

As luzes oscilavam irritantemente, os sons cintilantes das moedas e o burburinho omnipresente preenchiam o pavilhão. Noite de casino. Sorrisos amarelos, pessoas de plástico e um fulano idiota que sorri para mim estampado numa nota.
A noite corria mal. Todas as apostas eventualmente se reverteram numa perda de orçamento que progressivamente se encurtava e atingia agora limites baixos e agoniosamente perigosos. 100 contos nas mãos. Nada lá fora, nada cá dentro... tudo nas mãos.
A serenidade aparente nada escondia, apenas ligeiros acessos de demência derivados de um capitalismo carnívoro. No meio da névoa, uma mesa de jogo. Apesar de aparentemente banal algo de confortavel emanava daquele pano verde, um pouco sujo das beatas que caíam sinuosamente.
Duvida: jogar e arriscar? A "trifurcação" era inevitavel.
Jogar e ganhar: salvar a noite, engordar o orçamento e quem sabe a auto-estima e ao mesmo tempo relançar os dados num outro jogo.
Jogar e perder: mãos vazias, joelhos a raspar no chão. Perda total e a impossibilidade futura de arriscar seja o que for.
Não jogar: agarrar firmemente as notas. Sair pela porta sem nunca saber se os dados estavam de facto a sorrir ou se simplesmente era eu que lhes vertia simpatia.
Tic Tac Tic Tac... Trifurcação. Nunca pensei que o tempo fosse um factor determinante. Mas foi, a mesa deixou de sorrir e a hesitação levou ao terceiro caminho - o mais equilibrado, mas não necessariamente o mais são.

A vacilação é a origem da monotonia. A monotonia é a origem...